A louca - Augusto dos Anjos


A louca
A Dias Paredes
(Augusto dos Anjos)

Quando ela passa: - a veste desgrenhada, 
O cabelo revolto em desalinho, 
No seu olhar feroz eu adivinho 
O mistério da dor que a traz penada. 

Moça, tão moça e já desventurada; 
Da desdita ferida pelo espinho, 
Vai morta em vida assim pelo caminho, 
No sudário de mágoa sepultada. 

Eu sei a sua história. - Em seu passado 
Houve um drama d’amor misterioso 
- O segredo d’um peito torturado - 

E hoje, para guardar a mágoa oculta, 
Canta, soluça - coração saudoso, 
Chora, gargalha, a desgraçada estulta.