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Mania de dúvida - Alexandre Search


Mania de dúvida 
(Alexandre Search,
Heterônimo de Fernando Pessoa)

Tudo para mim é um duvidar 
Com a normalidade sempre em cisão, 
E o seu incessante perguntar 
             Cansa meu coração. 

As coisas são e parecem e o nada sustém 
O segredo da vida que contém. 

A presença de tudo sempre perguntando 
Coisas de angústia premente, 
Em terrível hesitação experimentando 
             A minha mente. 

É falsa a verdade? Qual o seu aparentar 
Já que tudo são sonhos e tudo é sonhar? 

Perante o mistério vacila a vontade 
Em luta dividida dentro do pensar, 
E a Razão cede, qual cobarde, 
             No encontrar 

Mais do que as coisas em si revelam ser, 
Mas que elas, por si só, não deixam ver. 

A meu maior amigo - Alexander Search


A meu maior amigo
(Alexander Search,
Heterônimo de Fernando Pessoa)

Quando eu morrer, eu sei, tu escreverás
Triste soneto à morte prematura;
Dirás que a vida cansa em amargura
E, pálido e frio, tu me cantarás.

Nas quadras, reflectido se lerá
De como, vã e breve, a vida expira
E como em terra funda, dura e fria,
A vida, má ou boa, acabará.

A seguir, nos tercetos, tu dirás
Que a morte é mistério, tudo fugaz,
Verdadeira, talvez, a vida além.

Por fim porás a data, assinarás.
E, relido o soneto, ficarás
Contente por tê-lo escrito bem.