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Sobre a maldade - José Saramago


É evidente: a maldade, a crueldade, são inventos da razão humana, da sua capacidade para mentir, para destruir.

José Saramago

No coração, talvez - José Saramago


No coração, talvez, ou diga antes: 
Uma ferida rasgada de navalha, 
Por onde vai a vida, tão mal gasta. 
Na total consciência nos retalha. 
O desejar, o querer, o não bastar, 
Enganada procura da razão 
Que o acaso de sermos justifique, 
Eis o que dói, talvez no coração. 

José Saramago

Não me peçam razões - José Saramago


Não me peçam razões, que não as tenho, 
Ou darei quantas queiram: bem sabemos 
Que razões são palavras, todas nascem 
Da mansa hipocrisia que aprendemos. 

Não me peçam razões por que se entenda 
A força de maré que me enche o peito, 
Este estar mal no mundo e nesta lei: 
Não fiz a lei e o mundo não aceito. 

Não me peçam razões, ou que as desculpe, 
Deste modo de amar e destruir: 
Quando a noite é de mais é que amanhece 
A cor de primavera que há-de vir. 

José Saramago

Sair da ilha - José Saramago


Passado, presente, futuro - José Saramago


Passado, presente, futuro
(José Saramago)

Eu fui. Mas o que fui já me não lembra: 
Mil camadas de pó disfarçam, véus, 
Estes quarenta rostos desiguais. 
Tão marcados de tempo e macaréus. 

Eu sou. Mas o que sou tão pouco é: 
Rã fugida do charco, que saltou, 
E no salto que deu, quanto podia, 
O ar dum outro mundo a rebentou. 

Falta ver, se é que falta, o que serei: 
Um rosto recomposto antes do fim, 
Um canto de batráquio, mesmo rouco, 
Uma vida que corra assim-assim. 

Eu luminoso não sou - José Saramago


Eu luminoso não sou
(José Saramago)

Eu luminoso não sou. Nem sei que haja 
Um poço mais remoto, e habitado 
De cegas criaturas, de histórias e assombros. 
Se, no fundo poço, que é o mundo 
Secreto e intratável das águas interiores, 
Uma roda de céu ondulando se alarga, 
Digamos que é o mar: como o rápido canto 
Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável 
O movimento de asas. O musgo é um silêncio, 
E as cobras-d'água dobram rugas no céu, 
Enquanto, devagar, as aves se recolhem.