Chorei. Quantas vezes ouvi esse poema ser declamado por ela? Ela, que sempre foi uma guerreira, que sozinha criou sua filha, em um tempo em que isso era muito mais difícil do que hoje. Ela, a quem uma febre tifoide, ainda na juventude, roubou parte das memórias. Ela, que não mais sabia ler, mas que declamava tão lindamente esse poema. Ela, que amava e cuidava das plantas como ninguém. A foto que ilustra este post foi tirada, já faz algum tempo, em seu lindo jardim. Ela já não mais existe. Seu jardim também não. Só ficaram as lembranças e esse buraco no coração. Acho que é assim, quando perdemos alguém que amamos, faz-se um buraco em nosso coração. Na velhice, nosso coração já está todo esburacado. Por isso fica mais fraco, por isso mais facilmente deixa de bater.
Dame la mano
(Gabriela Mistral)
Dame la mano y danzaremos;
dame la mano y me amarás.
Como una sola flor seremos,
como una flor, y nada más...
El mismo verso cantaremos,
al mismo paso bailarás.
Como una espiga ondularemos,
como una espiga, y nada más.
Te llamas Rosa y yo Esperanza;
pero tu nombre olvidarás,
porque seremos una danza
en la colina y nada más...