Triste destino - Florbela Espanca


Triste destino!
(Florbela Espanca)

Quando às vezes o mar soluça tristemente 
A praia abre-lhe os braços e deixa-o a gemer; 
Embala-o com amor, de leve, docemente, 
E canta-lhe cantigas p’ra adormecer! 

Quando o Outono leva a folha rendilhada, 
O vestido real da branda Primavera, 
O rio abre-lhe os braços e leva amortalhada 
A pequenina folha, essa ideal quimera! 

O sol, agonizante e quase moribundo, 
Estende os braços nus, alegre, para o mundo 
Que o faz amortalhar em púrpura de lenda! 

O sol, a folha, o mar tudo é feliz! Mas eu 
Busco a mortalha minha até no alto céu! 
E nem a cruz p’ra mim tem braços que m’estenda!